Cuidado Com a Ritalina

por Jose Luis Martino*

A Ritalina é uma droga tarja preta que está sendo amplamente receitada para nossas crianças. A droga promete ajudar com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). De forma simplificada, pessoas que sofrem desse transtorno apresentam menos domamina nas sinapses do cérebro. Essas pessoas se beneficiam do uso da Ritalina. Pessoas saudáveis não se beneficiam do uso dessa droga. Pelo contrário.

Médicos e pais têm usado a Ritalina para ajudar a “acalmar” crianças muito agitadas. Esse uso do remédio não está correto, pois a agitação é própria de muitas crianças. Não devemos ver a criança agitada como uma criança que tem o transtorno TDAH, necessariamente. Mas isso tem se transformado em uma prática comum, tanto de pais quanto dos médicos: O Brasil é o país que mais consome Ritalina no mundo, depois dos Estados Unidos!

Isso é muito grave. A Ritalina, droga da família das anfetaminas, causa dependência química e tem diversos efeitos colaterais. Entre eles estão: emagrecimento, insônia, dor de cabeça e incontinência urinária.

Muitas crianças têm dificuldade em ficar quietas e concentradas por longos períodos de tempo. Isso é um desafio bastante comum nas escolas e não é de hoje! Mesmo a agitação excessiva raramente é TDAH, e raramente deve ser tratada com Ritalina. Existem outras maneiras de lidar com essa característica, através de terapias com psicólogos e psicopedagogos.

A terapia com psicólogo ou psicopedagogo não é instantânea como a droga. Não é só dar uma pílula de tanto em tanto tempo e não ter mais problemas com seu filho na escola. Infelizmente, por não ser imediata, a terapia acaba sendo menos usada pelos pais e médicos, que querem resultados rápidos. Ela visa compreender o que a criança sente, quais são suas dificuldades, e guiá-la para um comportamento mais adequado dentro desse mundo que vivemos, mas sempre respeitando sua individualidade e suas vivências. Sem transformá-la num “robozinho”.

O Transtorno de Déficit de Atenção existe, mas não podemos confundir agitação natural das crianças com transtorno. Criança dá trabalho mesmo, muitas delas têm dificuldades em se concentrar na escola e vão tirar notas baixas em alguma fase da vida. Por isso é importante que os pais e médicos evitem pegar o perigoso atalho da Ritalina. O que estamos vendo atualmente é essa droga ser receitada para muitas crianças saudáveis, sem necessidade, apenas por conveniência.

*Jose Luis Martino é o médico responsável pela OncoVitae. Também é oncologista no INCA e Hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus.

Esse artigo foi publicado no jornal O Povo do Estado do Rio de Janeiro na coluna Saúde, Mel e Limão.

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2 Respostas

  1. Ótimo artigo. Receitar drogas para distúrbios (ou simplesmente características) de comportamento parece ser o caminho mais fácil, mas raramente é o melhor. Achar que crianças – e de uma forma mais ampla, pessoas – são como máquinas que podem ser “reguladas” com remédios para que funcionem dentro de um mesmo padrão parece algo tirado de um daqueles livros de ficção científica, nos quais num futuro distante, todos seriam submetidos a um governo autoritário e tão intrusivo ao ponto de estabelecer e exigir parâmetros rígidos de comportamento e até pensamento. mas se pensarmos na quantidade de gente que toma remédio (com receita!) para “ficar feliz” e coisas do gênero…

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